terça-feira, 21 de agosto de 2012

O que é a esotropia congênita?

É normal nos 4-6 primeiros meses de vida que crianças apresentem desvios intermitentes dos olhos, pois o reflexo de fixação ainda não esta maduro. Porém, existe uma condição conhecida como esotropia congênita, na qual os olhos ficam constantemente desviados para dentro. Esse quadro necessita de tratamento clínico e cirúrgico. Entenda a seguir um pouco mais desse tipo de estrabismo.

 

O que é esotropia congênita?

 A esotropia (desvio dos olhos para dentro) congênita é definida como desvio que tem início até o primeiro ano de vida (figura 1).   

Figura 1: Criança com Esotropia Congênita

Existe causa para o desvio?

A etiologia do problema ainda é desconhecida. As principais hipóteses são alterações dos centros de controle do olhar, levando a disfunções tanto motoras como sensoriais.

A esotropia congênita está associada à perda de visão?

A esotropia congênita não é causa de perda de visão; porém se um dos olhos fica muito tempo mais desviado, teremos a falta de desenvolvimento sensorial desse olho, levando à ambliopia (vide postagem anterior do blog).

Quais são as doenças que podem aumentar o risco do desenvolvimento da esotropia congênita?

Prematuridade, hidrocefalia, epilepsia, atraso do desenvolvimento, hemorragias intracranianas (intraventricular) e história familiar de estrabismo estão associadas a essa entidade.

O que é fixação cruzada?

Geralmente as crianças com esotropia congênita tem limitação da movimentação dos olhos para o lado temporal (abdução). Conseqüentemente, ao se chamar a atenção desses pacientes numa das visões laterais, ele vai fixar com o outro olho (figura 2), girando bastante a cabeça, esse é o motivo que muitas dessas crianças apresentam torcicolo (posição viciosa de cabeça).

Figura 2: Fixação cruzada. Observa-se que a criança olha para o lado direito com o olho esquerdo, girando a cabeça para á esquerda.

As crianças com esotropia congênita necessitam de óculos?

Na grande maioria dos casos esse tipo de estrabismo não está associado ao uso de óculos.

Como se trata a esotropia congênita?

O tratamento é essencialmente cirúrgico. Alguns autores advogam o uso da toxina botulínica, porém não temos o costume de utilizá-la, pois o tratamento é paliativo (dura em média 6 meses) e precisa ser realizado sob anestesia geral. Dessa maneira a cirurgia é mais eficaz, tanto ao longo prazo quanto ao menor risco de envolver a criança a riscos anestésicos desnecessários.

Qual a melhor idade para se operar esses casos?

A cirurgia deve ser realizada quando o tratamento para ambliopia se mostrou eficaz e quando temos desvio estável. Não se deve operar crianças muito pequenas (menor que 6-8 meses), tanto pelo risco anestésico como pela instabilidade do desvio e dificuldade do exame. Porém, parece que a cirurgia realizada até os 12-15 meses tem resultados mais estáveis a longo prazo.

Uma só cirurgia resolve o problema?

A taxa de reoperação é variável (10%-60%). A esotropia congênita pode apresentar ao longo dos anos recidiva do desvio ou aparecimento de outros tipos de estrabismos associados. Dessa maneira os pais sempre são orientados que o bebê pode necessitar de outra intervenção mais tarde.

Existem outros tipos de devios associados à esotropia?

É muito comum a associação de outros tipos de estrabismo.  

A DVD (divergência verical dissociada) é o movimento dos olhos para cima e para fora, é a causa mais comum de reoperação tardia na esotropia congênita.

O nistagmo é um movimento ocular involuntário, oscilatório, rítmico e repetitivo. Frequentemente se observa nessas crianças o tipo latente, em que o nistagmo se manifesta quando se oclui um dois olhos.

Eventualmente pode ocorrer associação (mesmo tardia) de hiperfunção dos músculos oblíquos superior e inferior que podem causar desvios verticais notados principalmente ao olhar para os lados.