segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Jogar videogame em excesso prejudica a visão?

Atualmente uma das perguntas que mais recebo no meu consultório é: jogar videogame em excesso prejudica os olhos?

Já estão bem estabelecidos alguns efeitos deletérios que o excesso de videogame podem causar, como a predisposição à violência, aumento na incidência de sobrepeso (os jogos, mesmo o Wii, não caracterizam atividade física apropriada) e diminuição da sociabilidade.
Por outro lado, os fatores positivos são a melhora da coordenação motora, utilização como ferramenta educacional e melhora do raciocínio (quando são praticados jogos que ajudam a desenvolver a lógica).

E com relação aos olhos?

Normalmente o ser humano pisca entre 22 a 24 vezes por minuto. Quando estamos em frente a um monitor, existe a tendência a piscar menos, diminuindo a lubrificação ocular e causando sintomas como visão borrada, ardência e dor de cabeça. Porém, felizmente todos os efeitos são temporários. A simples introdução de intervalos de 5 a 10 minutos a cada hora de jogo (logicamente, fazendo o indivíduo “descansar” os olhos, olhando uma paisagem com luz natural, andar um pouco pela casa...) e o posicionamento da criança a mais de 4 metros da TV podem diminuir bastante a incidência dos sintomas.
A maior dúvida se apresenta em relação aos games de bolso. Uma discussão muito antiga na oftalmologia é se o excesso de leitura de perto em crianças pode levar ao aparecimento de miopia, devido ao esforço constante da criança para sustentar o foco para perto. Uma série de artigos já foi publicada com relação a esse assunto, com resultados muito controversos.
Em um estudo patrocinado pela OMS em que tive o prazer de participar, observamos incidência muito maior de miopia em crianças com hábito de leitura mais frequente, ou seja, que forçavam a visão para perto. Dessa maneira, existe “tendência” a acreditar que os “pocket games” podem levar ao aparecimento de miopias precoces, porém NÃO há confirmação científica que prove esse fato.
A outra pergunta é: videogame pode melhorar minha visão? Por mais estranha que pareça essa questão, recentemente surgiu um artigo científico no PLoS Biology (http://www.plosbiology.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pbio.1001135 ou http://www.medscape.com/viewarticle/752053) em que se observou que o uso de videogames pode melhorar e desenvolver a visão de olhos amblíopes (vista preguiçosa - vide postagem anterior) na fase adulta. Foram examinados 20 pacientes com idade entre 20 e 61 anos, instruídos a jogar games de ação por pelo menos 40 horas mensais. Esses pacientes tiveram melhora de 30% na acuidade visual!! Pessoalmente não vejo nenhuma explicação lógica que me convença desse efeito, mas está publicado.
Como recomendação final, acredito que a lei principal que devemos respeitar é aquela que ouvimos por muito tempo de nossas avós e pais: tudo em excesso é prejudicial.


 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O que é conjuntivite?

Olho normal comparado a olho com conjuntivite
Conjuntivite é a inflamação da conjuntiva, membrana delgada e transparente que reveste a parte da frente do globo ocular e o interior das pálpebras, em geral acomete os dois olhos. Como a conjuntiva possui pequenos vasos sangüíneos em seu interior, que podem ser vistos através de uma observação mais rigorosa, ao se inflamar os vasos ficam mais dilatados, causando assim a vermelhidão do olho.

Quais são as causas?

Existem várias causas para a conjuntivite. A mais comum é a viral, muito mais freqüente nas estações quentes; são as responsáveis pelas epidemias, e muitas vezes estão associadas a infecções das vias aéreas, como a febre faringoconjuntival (dores de garganta e corrimento nasal).
Porém, existem outras causas como a tóxica (contato com agente químico), bacterianas (infecção bor bactérias como Staphilococos, Streptococos e Haemophilos) e a alérgica (geralmente associada à pacientes com rinite e asma). Causas infecciosas mais raras são a conjuntivite gonocócica e a de inclusão (Chlamydia trachomatis), agentes que podem ser sexualmente transmissíveis.
A contaminação do olho com bactérias ou vírus, ocorre geralmente por transmissão pelas mãos (por manipulação do olho), toalhas e cosméticos (particularmente maquiagem para os olhos).
Os agentes tóxicos ou irritantes, causadores de conjuntivite podem ser a poluição do ar, fumaça (cigarro), sabão, sabonetes, spray, maquiagens, cloro (lembrar-se de piscinas), produtos de limpeza, etc.

Quais são os sintomas?

Em geral, a conjuntivite se caracteriza por ardência e coceira na região ocular (esse sintoma é comum principalmente na alérgica), com sensação de corpo estranho (areia ou de ciscos), excesso de lacrimejamento, fotofobia (aumento da sensibilidade a luz) e inchaço palpebral. Na bacteriana a secreção abundante e dor moderada é sintoma comum.
 
Como evitar?

Diferentemente das gripes e resfriados, ninguém pega conjuntivite viral apenas se aproximando do indivíduo infectado, o contato tem que ser direto, ou seja, a precaução por parte do doente é o principal meio de evitar o contágio.
Dicas importantes como exemplo são: lavar as mãos, evitar possíveis veículos que possam ser transmissores do vírus (como toalhas de rosto e fronhas de travesseiros), lavar as mãos antes e depois do uso de colírios ou pomadas e, ao usá-los não encoste o bico do frasco no olho; não compartilhar rímel ou delineadores. Todos estes cuidados devem ser verificados por pelo menos 14 dias desde o início dos sintomas nos indivíduos contaminados, pois mesmo que o quadro sintomático dure menos, esse é o período em que pode ocorrer o contágio.
Quanto às tóxicas, os cuidados mais indicados são evitar nadar em piscinas com cloro sem óculos de natação; caso freqüente locais muito poluídos solicitar ao seu oftalmologista a prescrição de colírios lubrificantes, e se for necessária a exposição a locais com maior risco de agentes irritatantes, usar óculos de proteção.
Nas conjuntivites alérgicas os cuidados começam em casa, como manter o filtro  do ar condicionado limpo, evitar objetos que acumulem poeira (cortina, carpete, tapete, bicho de pelúcia), lavar roupas guardadas há muito tempo antes de usá-las, forrar travesseiros e colchões com capas anti-alérgicas, manter os ambientes bem arejados e expostos ao sol, evitar flores dentro dos quartos, evitar animais domésticos (principalmente gatos), evitar manusear objetos com muito pó.

Tratamento

As conjuntivites virais são auto-limitadas, ou seja, os sintomas e a doença melhoram em aproximadamente 7-10 dias, compressas geladas com água potável são sempre recomendadas (evite água boricada, pois pode ser fonte de contaminação). Medicações (pomadas ou colírios) podem ser utilizadas para aliviar os sintomas. Os quadros infecciosos devem ser tratados com antibiótico terapia tópica na maioria das vezes (colírios).
Existem medicações específicas para os quadros alérgicos, porém seu tratamento é um pouco mais prolongado.
As tóxicas também muitas vezes necessitam de tratamento específico.
Caso você apresente conjuntivite, procure seu oftalmologista, olho vermelho nem sempre é sinal de conjuntivite, doenças oculares mais graves podem estar mascaradas. Não use medicamentos sem orientação médica, pois alguns colírios são contra-indicados porque podem provocar complicações e até piorar o quadro.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Entenda mais sobre catarata



A Catarata (figura 1) consiste na opacidade parcial ou total do cristalino (lente natural do olho). Inicia-se com a diminuição da visão mesmo com correção óptica. É uma doença ocular que pode ser congênita (mais rara) ou adquirida, que é a forma mais frequente.

Figura 1: Aspecto do cristalino normal e com catarata

As cataratas congênitas são aquelas que aparecem nas crianças e podem ser hereditárias (geralmente casos bilaterais) ou por infecções (rubéola, durante a gestação, é a causa mais freqüente).
As cataratas adquiridas, em geral, ocorrem em pessoas acima dos 60 anos e também são conhecidas como cataratas senis, alguns estudos demográficos demonstram que estão presentes em 75% das pessoas acima dos 70 anos de idade. Traumatismos oculares, uso de corticóides, inflamações intra-oculares, exposição excessiva à radiação ultravioleta (como a luz solar) e diversas doenças associadas, como o diabetes, por exemplo, são causas possíveis.
Os sintomas mais comuns além da diminuição da visão, podem ser a dificuldade para distinguir cores, diminuição da visão de contraste (os objetos perdem o brilho) e a alteração freqüente do grau de óculos (geralmente aumento do grau de miopia e diminuição da hipermetropia). Pode ocorrer bilateralmente e ainda é a maior causa de cegueira no mundo, atingindo aproximadamente 45 milhões de pessoas.
 Não existe tratamento clínico para catarata, este é sempre cirúrgico. A partir do momento em que a baixa acuidade visual não é mais corrigida com o uso de correção óptica há indicação cirúrgica. O momento ideal para a realização da cirurgia depende também do prejuízo e do comprometimento que esta opacidade vem trazendo ao dia-dia e as funções habituais do paciente.
Antigamente, a cirurgia de catarata era considerada arriscada e era evitada sempre que possível. Havia a necessidade de internação hospitalar por uma semana ou mais e as complicações eram freqüentes, havendo a necessidade de usar um óculos extremamente forte após a cirurgia. Atualmente a catarata é operada em regime ambulatorial (alta no mesmo dia da cirurgia), utilizando-se quase rotineiramente a anestesia tópica (com colírios). As vantagens são grandes: não há os riscos de acidentes com agulhas e nem a dor da injeção anestésica.  
A técnica cirúrgica mais moderna para o tratamento da catarata, é a facoemulsificação (figura 2), em que se utilizam vibrações ultra-sônicas e permite a sua remoção por aspiração através de uma micro-incisão de apenas 3 milímetros - que dispensa suturas (pontos), associada ao implante de uma lente intra-ocular (figura 3).  Atualmente, temos também a opção de corrigir erros refrativos (miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia) com a lente implantada, ou seja, além de retirarmos a catarata contamos com uma variedade de lentes intra-oculares que ajudam a corrigir esses erros refrativos.

Figura 2:  Facoemulsificação


Figura 3: Lente intra-ocular (acima: aspecto da lente, abaixo: aspecto da lente dentro do olho)